Cláudio Boriola (*)
Até a década de sessenta, apenas café e açúcar faziam sucesso nas terras brasileiras. Grãos e outros alimentos essenciais eram cultivados somente para a subsistência e consumo interno. Não existia exportação. A extensa área cultivável do nosso país era muito mal utilizada e as grandes propriedades tinham uma mínima área destinada para a agricultura. Nas décadas seguintes, a criação de um parque industrial para a extração de óleo (principalmente de soja) forçou o aumento da produção e, conseqüentemente, das áreas cultiváveis. E, finalmente, foi o Plano Real que proporcionou um mercado mais seguro para os produtores e impulsionou o setor, a partir de 1995.
Na primeira semana de novembro, estive na cidade de Lucas do Rio Verde, município com pouco mais de 3 mil quilômetros de área territorial no interior mato-grossense que é responsável por 1% da produção nacional de grãos (para efeito de comparação, seu território responde por cerca de 0,04% do território brasileiro).
O contato direto com os produtores me fez confirmar uma questão de que já desconfiava. O agronegócio, tão festejado e tão bonito nos programas rurais da TV e nos suplementos dos grandes jornais, também passa por certas dificuldades. Existem, sim, aqueles grandes produtores que exportam praticamente toda a sua colheita e têm verdadeiras centrais hi-tech em suas propriedades. Mas também existem os produtores que sofrem para igualarem os ganhos das vendas com os seus custos.
As preocupações são inúmeras: compra e manutenção de equipamentos necessários para acompanhar o avanço tecnológico e não correr o risco de perder ou prejudicar a produção. São realizados vários estudos em relação aos impactos ambientais que a plantação pode causar na área cultivada. Estudos meteorológicos também são essenciais para não serem pegos de surpresa pelas intempéries. Até profissionais de TI (Tecnologia da Informação) estão sendo procurados devido a automação de alguns processos. E tudo isso custa dinheiro.
A competição com os produtores norte-americanos e argentinos, os principais concorrentes, se torna difícil devido as dificuldade no transporte. A má vontade política fez com que o transporte rodoviário se tornasse o principal em nosso país. Justamente o mais caro, que faz com que os preços dos nossos produtos não sejam tão competitivos quanto os que vêm de fora. Problemas de logística infelizmente são freqüentes. Para reverter esse quadro, os produtores acabam tendo que pagar para plantar e as conseqüências são gravíssimas. Aí temos toda a cadeia produtiva prejudicada (manutenção do aparato técnico, qualidade do plantio e da produção, etc).
Em números, 2007 parece ser um ano de recuperação. A cotação de produtos como a soja e o algodão estão em fase de recuperação, o que deve aliviar um pouco os produtores. Mas só isso não basta. Os produtores precisam ter mais segurança no retorno financeiro dos seus investimentos. Quem ganha com isso não são somente eles. É o produto brasileiro que vai para o exterior valorizado e com a garantia de qualidade.
(*) É Consultor Financeiro, Conferencista, Especialista em Economia Doméstica e Direitos do Consumidor.