Divaldo de Camargo Pereira (*)
Era época de carnaval lá pelos idos anos de 1960 ou 61, quando eu vim pela primeira vez a Américo Brasiliense para conhecer os familiares de minha então namorada, Rute.
Era carnaval e o último a ser realizado no barracão do Storani, aquele que fica defronte Igreja (velha) e está abandonado. Era uma época muito boa em Américo Brasiliense. As várias famílias se reuniam ao som da banda local, que interpretava as saudosas marchinhas carnavalescas.
Foi neste carnaval que meu cunhado Roberto (filho de Elias Leme da Costa) me apresentou àquela pessoa vestida com um avental branco – de rosto e nariz afilados e cabelos repartidos que estava servindo o pessoal nas mesas do salão. Era Deolindo Gibotti. O diálogo foi mais ou menos o seguinte
Deolindo disse:
– Você bate na bola ou é condenado?
– Nela quem?, interroguei-o.
– Na bola, ora!, disse o mestre
– Ahh… sim! Eu venho lá de Itápolis, jogo no Oeste Futebol Clube.
O diálogo se encerrou com ele dizendo:
– Arrume um par de chuteiras e vá treinar, na terça-feira, no Americano.
Emprestei as chuteiras de José Vitor (Barbieri) e, na terça-feira, lá estava eu.
A minha amizade com Deolindo foi duradoura. Joguei bola no Americano, no veterano do clube e lá estava o “Velho Mestre”. Formei a primeira escolinha de futebol de Américo Brasiliense, o “Sacomé” e lá estava Deolindo novamente, como técnico e voluntário.
Quem o conheceu o via sempre carregando as bolas de futebol, as chuteiras, os uniformes, abrindo e fechando o campo, treino após treino. Era o primeiro a chegar e sempre acompanhado do seu filho Gibotinho.
Sempre vigiava a “molecada”, em véspera de jogo, para saber se ia dormir cedo. Não esqueço até hoje a sua preocupação conosco: “Olha lá Liminha”, “Cuidado com saúde Gê (Geraldo Abi-Jaudi)”; “Divaldo (de Camargo Pereira) vá dormir mais cedo”.
Esse era Deolindo: técnico, psicólogo, aconselhador, mestre, “paizão” de várias gerações de jovens de nossa cidade. João Carneiro, Dinhão (Jurandir Bortolli), Toninho Barbieri, Canoa (Carlos Bortolli Filho), Nê (Cláudio Bortolli), Octávio (Dótoli), Leivinha, Liminha, Ercílio Cavassani, Roberto Barbieri, Moacir, Airton Paulino, José Vitor Barbieri, Salvador Romania, José Oscar Borttoli, Noca (Carlos Alberto Sarti), Tim Scanholato, Zé Tampinha (José Carlos Barros dos Santos), Itália (Antonio Piragino Filho), Jofre e Júlio Carneiro, dentre muitos outros.
Deolindo foi meu técnico, técnico dos meus filhos Roberto, Marcelo e Gustavo, técnico dos meus netos Renan e Rafael. Nas mãos do “Velho Mestre” passou quase todos os garotos de Américo.
– É Noca (Carlos Alberto Sarti), Deolindo merecia um final mais digno. Talvez ele quisesse mesmo morrer num campo de futebol e não numa cama de hospital. Talvez, até ser velado num campo de futebol. A cidade fica devendo, fica devendo muito a este homem bondoso, amigo, sincero, honesto, humilde, que sentia amor pelo esporte, amor pela sua cidade.
O mais importante é a justiça e o reconhecimento é sempre feito pela voz do povo. Por estes dias, estava saindo do meu serviço, no Hospital “Nestor Goulart Reis”, quanto uma colega de trabalho me interpelou:
– Seu Divaldo, Seu Divaldo… Eu moro no Jardim Paraíso, meus filhos não jogam futebol, mas, por favor, pede para Cleide (prefeita) colocar o nome do Deolindo naquela área de esporte da Cohab, pois todos lá gostavam dele…
Meu “Velho Mestre”, muito obrigado em nome de minha família, dos meus filhos Roberto, Marcelo e Gustavo, e dos meus netos Renan e Rafael.
(*) Vice-prefeito de Américo Brasiliense