Colaborador: Bruno Sanches Bosso Munhoz
AINDA ESTOU AQUI
Quando se fala em cinema nacional, muitos não gostam por diversos motivos. Pode ser por qualidade, texto, temas abordados, enfim, acabam sempre preferindo os filmes internacionais e que estão sendo comentados na internet. Eu mesmo, quando pequeno não gostava dos filmes feitos aqui, mas hoje eu entendo o que acontece. Muita gente prefere fechar os olhos para os problemas que estão em nossa volta e viver como se nada de ruim estivesse acontecendo. E os nacionais mostram isso na nossa cara, gerando certo afastamento do público. E “Ainda estou aqui” pode seguir na mesma linha.
O filme se passa no Rio de Janeiro durante o Regime Militar e conta a história da família de Eunice Paiva (Fernanda Torres) e Rubens Paiva (Selton Mello), o qual foi exilado do Brasil por apoiar grupos contrários ao golpe de 1964. Agora em 1971, Rubens é pego por um grupo de homens para prestar um depoimento, porém ele não volta mais. No dia seguinte, Eunice e uma de suas filhas são levadas para depor. A filha é liberada no mesmo dia, enquanto Eunice fica por semanas sendo interrogada todo dia, sem notícias de seu marido e muito menos de sua família. Ao ser liberada, busca entender mais sobre o envolvimento de Rubens em toda essa história, ao mesmo tempo que é vigiada 24 horas por homens desconhecidos e criar seus filhos em um dos períodos mais complicados.
“Ainda estou aqui” nos mostra um lado de nossa história que não tinha sido abordado até hoje, pelo menos não diretamente, de como o desaparecimento de alguém que lutou contra o regime afetou a vida de uma família inteira, destruiu sonhos e causou traumas nos familiares e conhecidos deles. Nesse filme, além da bela fotografia e de um roteiro que soube envolver o público, os atores souberam conquistar nossos corações dando a vida em cada personagem, principalmente a Fernanda Torres, a qual do início ao fim transmite o drama, o medo, o terror, a preocupação, a felicidade, a beleza, a alegria, sentimentos opostos mas presentes na mesma expressão. Não é à toa que está sendo cotada para ganhar o Oscar de “melhor atriz”.
Este talvez seja o filme que separe o cinema nacional em dois, ainda mais se ganhar o Oscar. Um antes e um depois, e não digo isso apenas por “ainda estou aqui” mas pelo aumento de filmes brasileiros de qualidade crescendo ano após ano. Espero que, para os próximos anos, vejamos mais filmes, series e atores brasileiros despontando nos maiores festivais culturais do mundo, levando a nossa história e o Brasil para todos os cantos.
Por fim, recomendo demais a todos os leitores que vão ver “ainda estou aqui” nos cinemas, ajudem o cinema nacional e prestigiem a história de Eunice Paiva e Rubens Paiva, em nome de todos os brasileiros que sofreram de alguma forma com o regime militar. O filme é maravilhoso e lindo. Nota: 9/10. Obrigado.
Foto: Internet