Pouco restou da “civilização do café” em Américo Brasiliense, exceto a exclusão social: o prédio da estação ferroviária, a antiga e singela igreja matriz, e poucos outros remanescentes da arquitetura daquele período anterior à crise de 1929. Algumas das edificações mais significativas de então foram demolidas para a construção da Praça Pedro de Toledo, defronte a estação de trens, durante a segunda administração de Antonio Pavan.
A emancipação política do município efetivo-se em 1964, já durante a “in-civilização da cana” que trouxe crescimento econômico e populacional, com suas vantagens e desvantagens. Uma das desvantagens, certamente, é a excessiva concentração de renda do modelo agromonocultor-exportador, que inibe o surgimento de uma classe média numericamente significativa e que redunda numa enorme camada da população com baixíssimo nível de renda e, portanto, extremamente dependente dos serviços públicos que tendem a ser de péssima qualidade, com raras exceções, posto que a arrecadação municipal está longe de satisfazer a demanda por saúde, assistência social, cultura, lazer, etc.
Um aspecto vantajoso do crescimento populacional, por exemplo, foi que a cidade adquiriu massa crítica para se configurar como tal, posto que, até os anos sessenta do século XX, possuía pouco mais que duas ruas na área urbana – o grosso da população, então, habitava a zona rural.
A autonomia político-administrativa acelerou o progresso de uma forma geral, contudo, a proximidade geográfica de Araraquara revelou-se uma faca de dois gumes: os recursos mais sofisticados estão próximos, mas não estão exatamente AQUI: Américo parece cada vez mais uma cidade-satélite, uma “periferia ampliada”, uma cidade-dormitório, um pólo fornecedor de mão-de-obra barata para o centro maior. A principal exceção à regra é o setor metalúrgico e a mão-de-obra remanescente das antigas e extintas Metalúrgica Brasiliense e Villares, de tempos idos, mas que nos legaram trabalhadores mais especializados e algumas pequenas empresas do mesmo segmento ou afins.
Dadas as condições gerais, e ao generalizar deixamos de lado pormenores do período analisado nestas poucas linhas para que o processo possa ser mais nitidamente apreendido, lançamos a questão: o que pode ser feito para romper com o “status-quo”? Em outras palavras, qual é a solução possível para melhorar a precária situação de nossa cidade?
Cada leitor poderá refazer a descrição do processo a que nos referimos anteriormente, a seu modo, mas novas soluções têm que ser encontradas para nossa urbe no contexto político, econômico e social brasileiro, no qual estamos inseridos. A violência urbana e a degradação ambiental e urbanística são apenas dois dos muitos problemas epidérmicos, cujas raízes estão no bojo do desenvolvimento do Capitalismo, o processo-macro no qual está mergulhado até o pescoço o nosso microcosmo ameriliense.
Voltaremos ao assunto, oportunamente.
Ariovaldo Torres: sml_flower@hotmail.com