Amor Exigente

Relação entre a memória do prazer e o comportamento compulsivo

Há evidências que ligam os mecanismos de memória e aprendizado à dependência de drogas ou de comportamentos compulsivos como jogo, sexo ou cleptomania. São eles que explicam por que enfrentar os primeiros dias de abstinência de uma droga como a cocaína ou o álcool, por exemplo, não é o mais difícil; o martírio é permanecer abstinente pelo resto da vida.

Classicamente, a memória costuma ser dividida em dois grupos: aquelas das quais temos plena consciência e as que geralmente estão esquecidas. De forma consciente, um usuário de cocaína ou um apostador de corrida de cavalo pode lembrar da sensação de euforia proporcionada pela recompensa obtida e ir atrás de sua repetição. Isso talvez explique por que as pessoas jogam ou cheiram cocaína, mas não justifica a dependência química ou comportamental que elas desenvolvem pelo resto de suas vidas. E que persiste, mesmo quando o prazer deixou de existir, como é o caso do dependente de cocaína que desenvolve delírios persecutórios toda vez que usa a droga ou do jogador que perde a roupa do corpo.

Nas memórias não conscientes armazenadas em centros cerebrais especializados, como o hipocampo, está a explicação do lado compulsivo do comportamento que conduz às recaídas, tão conhecidas dos dependentes de drogas e de certos comportamentos.

Uma vez atendi a um rapaz incapaz de entender como conseguia passar um mês inteiro sem fumar crack, para recair sempre no dia 30, quando recebia o salário mensal. Outro, resistia sem problemas à abstinência, desde que não passasse na frente de uma farmácia aberta à noite. As crises de cólicas intestinais, náuseas e palpitação que os usuários de cocaína em abstinência sentem ao ver a droga ou ao encontrar alguém sob seu efeito constituem outra evidência de que muitas recaídas estão associadas à ausência de percepção consciente.

O grupo de Nora Volkow, de Nova York, em relato à revista “Science”, mostrou que a simples estimulação elétrica de uma área do cérebro situada no lobo frontal, atrás dos globos oculares, induzia crises de ansiedade pela droga em ex-usuários de cocaína. Da mesma forma, ratos dependentes de cocaína ficam desesperados atrás dela quando se lhes estimula o hipocampo através de uma corrente elétrica.

Fonte: Drauzio Varella

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