A Sorte

João Baptista Galhardo

O Correio recebeu uma carta, com nome e endereço do remetente, endereçada ao Papai Noel. Os carteiros resolveram abri-la. Era de um garoto que, arriscando a sorte, pedia mil reais para realizar os seus sonhos. Os carteiros coletaram quinhentos reais e mandaram ao menino em nome do Papai Noel. Logo depois, aqueles benfeitores receberam nova carta. E para o mesmo destinatário Abriram… ali estava escrito: – Papai Noel, recebi quinhentos reais. Da próxima vez mande entregar pessoalmente em minha casa, para essa turma do Correio não ficar com a metade.

O mês de dezembro é místico. Cheio de magia. Os corações amolecem. A solidariedade aumenta. Em busca da sorte guarda-se sementes de romã, come-se tâmaras e lentilhas. Folhas de louro são guardadas.

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O homem é o que ele pensa que é…

Os dicionários dizem que sorte é destino, fado, boa estrela, fortuna, felicidade, mas ela é mais bem definida como força invencível a que se atribuem o rumo e os diversos acontecimentos da vida. O azar seria o revés. Sorte ao contrário. Infelicidade. infortúnio. Sorte é para quem tem? Não! É para quem quer. Na natureza não há prêmios ou castigos. Há atos e conseqüências. Não vêm por acaso. Nasce antes no pensamento e se completa com muita fadiga e persistência. Não é causa. É efeito. Como dizia Heródoto, o destino do homem não é uma questão de sorte. Está na evolução da própria alma. O homem não encontra o êxito por acaso, mas sim direcionando seus pensamentos (e neles insistindo) para um objetivo. A força interior é a magia de cada um, como a utilizada pelos samurais. Não basta a sorte de ter talento. É preciso ter talento para a sorte.

Passadas as festas volta tudo como era antes. O bom será bom. O invejoso continuará a invejar e a sofrer com a prosperidade alheia. E os pessimistas continuarão na mesmice de sempre. Na indolência da monotonia. Não acreditando em nada. Muito menos em si mesmos.

Um homem sob a chuva viu que uma casa estava com seu interior em chamas. Aproximou-se. Um moço estava sentado no meio da sala, na iminência de ser atingido pelas chamas. Gritou para ele: – saia daí. Você vai morrer queimado.

– Não posso. Respondeu. – Minha mãe disse que se eu sair na chuva vou pegar pneumonia.

E quantos vivem no marasmo da vida. Morrendo numa apatia incontrolável, sem capacidade para dar um passo adiante, na tentativa de mudança para melhor.

Um mendigo pedia esmolas numa calçada, ao lado de uma placa que dizia: “ajudem este pobre infeliz. Sou um nada neste mundo. Sou fracassado e maltratado pela vida. Não consigo um mísero emprego”.

Um dia achou no lixo um livro onde leu um trecho que dizia: “tudo o que você fala a seu respeito vai-se reforçando. Por pior que esteja a sua vida, diga que tudo vai bem. Por mais que você não goste de sua aparência, afirme que é bonito. Diga a si mesmo e aos outros que você tem muita sorte”.

Trocou os dizeres de sua placa: “vejam como sou feliz. Próspero. Bonito, Importante. Saudável e bem-humorado”. Todos passaram a lhe dar maior ajuda. A sua vida melhorou. Até que um arrojado executivo o contratou para colaborar numa campanha da empresa, onde o ex-mendigo veio a se tornar, futuramente, seu sócio majoritário. Numa entrevista à imprensa explicou como saiu da mendicância para aquela situação de prosperidade. Uma repórter, ironicamente, questionou:

– O senhor está querendo dizer que algumas palavras escritas numa simples placa modificaram a sua vida?

Cheio de bom humor, o homem respondeu:

– Claro que não, minha amiga! Primeiro eu tive de acreditar nelas!

O homem é o que ele pensa que é.

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