João Baptista Galhardo
No nascimento há duas opções. Ou você nasce rico ou você nasce pobre. Se nascer rico não tem, em tese, motivo para preocupação. Se nascer pobre, de duas uma: ou você ficará rico ou você continuará pobre. Se ficar rico, não precisa se preocupar. Se ficar pobre, de duas uma: você poderá ser um pobre com saúde ou ficar doente. Se tiver saúde não há com o que se preocupar. Se ficar doente: você tem chance de ficar bom ou morrer. Se ficar bom, não tem com o que se preocupar. Se morrer: você vai para o céu ou vai para o inferno. Se for para o céu não há com o que se incomodar. Se for para o inferno encontrará tantos conhecidos para conversar, que não verá o tempo passar. Mas não é bem assim. Desde que nascemos começamos a morrer ou melhor, a viver. E todos, ricos e pobres, têm a obrigação de se esforçar para satisfação de suas necessidades, em busca da felicidade, meta de vida de qualquer um. Seja necessidade de habitação, de alimentação, de trabalho, de amor, de carinho, de atenção, fisiológica ou qualquer outra indispensável para a boa sobrevivência. Por isso que se afirma que a necessidade é a mãe de todas as invenções. É em torno dela que o mundo gira. A necessidade obriga um esforço que busca uma utilidade para satisfazê-la.
Na Mitologia Greco-romana, a necessidade aparece como uma divindade alegórica. É a Ananki dos gregos, filha da Fortuna, representada com as mãos de bronze e unhas de ferro.
Para exemplificar que a necessidade é a alavanca do mundo, conta uma história que o superior de um mosteiro, situado numa vasta área de terras, ao partir para uma longa viagem recomendou aos monges que cuidassem de tudo, com muito carinho, lembrando-se sempre de levar uma vida simples, respeitando o voto de cada um, de não ter mais do que o necessário para a subsistência. Os monges viviam em permanente estado de pobreza, com uma única troca de roupa e um par de sandálias.
Logo que o superior partiu, o mosteiro foi atacado por uma praga de ratos vorazes e destruidores, que roíam tudo que encontravam pela frente, inclusive as túnicas e as sandálias, únicos bens dos pobres monges. Os monges resolveram então arranjar uns gatos.
Os gatos devoravam os ratos, mas necessitavam de leite para se alimentar. Os monges aprovaram a idéia de arrumar uma vaca para dar leite para alimentar os gatos. A vaca fornecia leite, mas também precisava comer.
Os monges decidiram formar um pasto, que para ser plantado e mantido precisou de adubo e ferramentas, que eles providenciaram junto com o paiol que tiveram de construir para armazenar as colheitas, bem como um estábulo para os cavalos que conseguiram para puxar os arados e fazer os transportes.
Passaram longos anos.. um dia o superior voltou. No local onde julgava estar o mosteiro, estava agora uma próspera fazenda, com um grande rebanho e muitas plantações. O superior aproximou-se da cerca e perguntou para um trabalhador onde ficava o mosteiro. Ele disse que não sabia do que se tratava, mas se ofereceu para conduzi-lo até à administração da fazenda. Ao chegar no imponente escritório da sede da fazenda, o superior reconheceu um dos seus antigos monges e foi logo dando uma bronca:
– O que é isso? O que vocês fizeram do nosso mosteiro?. A vida tem que ser simples e sem ostentação! Vocês deveriam ter apenas o necessário para a subsistência!
– Nós sabemos mestre. Era exatamente o que estávamos fazendo. Mas um dia apareceram os ratos…