João Baptista Galhardo (*)
Os jovens voltam sua atenção aos cursos que adotaram como meta de vida. Fica a indagação: as Faculdades atuais formam ou apenas diplomam? Muitas (a minoria com certeza) são verdadeiras fábricas de sonhos. Fazem de conta que ensinam, os alunos fingem que aprendem e os pais querem acreditar que pagando, educam. Até aprendem, os que pagam estudos com o próprio dinheiro. Nas formaturas juram cumprir os respectivos códigos de ética, quando na realidade o principal é aquele recebido no berço.
Antigamente os pais discursavam: "quem ama, castiga". E pensando assim, achavam que bastava fazer um filho chorar para se considerar um bom educador. Não é bem assim. O amor, os exemplos, os diálogos, o ensinamento de regras de disciplina formam a base da boa educação. Principalmente se aliados ao trabalho. Rui Barbosa era mais brando: "A quem amo, advirto e corrijo". Aí sim, para corrigir, consertar, emendar, advertir, aconselhar, sugerir, censurar é preciso dialogar. E mais ainda, os bons pais, mesmo ricos, devem procurar o meio termo. Não dar o peixe, mas dar exemplos e ensinamentos de como pescar. Não devem suprir todas as necessidades daqueles que amam. Dizer Sim quando cabível e Não quando necessário, sem austeridade, porém justificado. Às vezes é necessário. Um Não dado com amor é assimilável. Não devem os pais tirar dos filhos a dignidade de conseguirem com esforço próprio a satisfação de suas necessidades.
É maior o orgulho de um jovem quando ele paga com seu próprio ganho um jantar para a namorada.
Assim como se sente orgulhoso quem custeia o seu próprio estudo.
A necessidade é o sentimento ou desejo de obtermos aquilo que não possuímos. O que é indispensável, útil ou cômodo ao homem. Mas isso exige esforço e sabedoria. E não há sabedoria sem esforço. Um depende do outro. Nada se obtém sem ele. Pelo esforço é que se abre o caminho. E se achar que o caminho é confuso, mude a forma de caminhar. Sem esforço não há progresso. A necessidade é a mãe das invenções. É em torno dela que o mundo gira. A necessidade obriga a um esforço que busca uma utilidade para satisfazer a necessidade.
Na Mitologia Greco-Romana, a necessidade aparece como uma divindade alegórica. É a Ananki dos gregos, filha da Fortuna, representada com as mãos de bronze e unhas de ferro.
Já foi contada de várias formas (que também conto) a lição da borboleta.
Um dia uma pequena abertura apareceu num casulo. Um homem sentou-se e ficou observando a borboleta por várias horas. Percebeu o tremendo esforço que ela fazia a fim de passar o corpo através da pequena passagem. Percebeu que tinha ido o mais longe que podia e não conseguia ir mais além. Então o homem decidiu ajudá-la. Ele pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo. A borboleta então saiu facilmente.
Porém, seu corpo estava murcho e pequeno… Tinha as asas amassadas.
O homem continuou a observá-la. Esperava que a qualquer momento, suas asas se abrissem, esticassem e pudessem suportar o corpo que iria se afirmar a tempo.
Nada aconteceu!
Na verdade a borboleta passou o resto de sua vida rastejando, com um corpo murcho e as asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar. Nunca teve amor próprio.
O homem em sua gentileza e vontade de ajudar não compreendia que o casulo apertado e o esforço que a borboleta fazia para passar através da pequena abertura, eram o modo pelo qual a Natureza fazia com o que o fluído do corpo da borboleta fosse para as suas asas, de forma que ela estaria pronta para voar quando, com seu próprio esforço, estivesse livre do casulo.
Acontece o mesmo com os homens: algumas vezes é justamente o que é preciso (o obstáculo) na vida de cada um. Como alavanca para o progresso.
Se Deus nos permitisse passar nossas vidas sem qualquer dificuldade Ele nos deixaria aleijados.
Não seríamos tão fortes como poderíamos ter sido.
Não poderíamos voar com nossas próprias asas.
E como há borboletas aleijadas…!