Marcelo Corrêa da Silva é pessoa ímpar em Araraquara, conhecido e reconhecido no campo profissional, dono de uma cultura extraordinariamente ampla e, além disso, de uma simplicidade ainda maior.
Indicado por Sarah Coelhos Silva, ele é o destaque em Gente*.
JA- Como se envolveu com o jornalismo?
MCS – Fiz um teste vocacional e deu Comunicação Social na cabeça. Tentei cursar em Brasília, no final da década de 70. Depois fui fazer teatro. De volta à Araraquara, trabalhei em O Imparcial. Em seguida, comecei a fazer a coluna social da Folha da Cidade, onde estou há oito anos. À dona Cecília A. C. Silva, a minha gratidão eterna.
JA – A que atribui sua versatilidade?
MCS – À inquietude. Miltinho Edilberto fez uma música para mim chamada Inquietude. É bom variar, conhecer pessoas, ampliar horizontes. Abaixo o tédio! A vida fica mais colorida, o tempo passa e a gente nem sente. Paixão pela arte, curiosidade, vontade de ver a vida de ângulos diferentes. Dizem que a maior qualidade da alma é a largueza de espírito. Não sei se é o meu caso, mas sei que “o espírito é como pára-quedas: só funciona aberto”
JA – O que leva você a ter essa garra pela vida?
MCS – Acho que essa história vem desde que éramos milhões de espermatozóides tentando alcançar o óvulo materno. Era tanta garra, que nascemos gêmeos: Flávio e eu. Algumas pessoas nascem com mais energia e vigor do que outras. O mapa astral explica.
JA – A sua religiosidade contribui para o seu amor à vida?
MCS – Sim, naturalmente. Tanto contribui que, por exemplo, o sexo pode levar a Deus. Mas não foi um caminho suave. Graças à Literatura consegui satisfazer algumas curiosidades místicas. A vontade, segundo Kant, sempre está envolvida nas experiências da gente. Acredito que é preciso ampliar a consciência para sermos felizes! Confúcio diz que só há três maneiras de nos tornarmos iluminados: através da imitação, da experiência, e da meditação. A tragédia deve ser questionada e a glória deve ser vivida, sugere Shakespeare, que entende de tragédia. É verdade. Não há nada mais “caro” do que informação, pra se consumir. As informações mais preciosas estão no seio das religiões. O que atrapalha é o orgulho místico. Então, contribui, sim, mas isso é mais cultural do que moral ou ético.
JA – Acha que falta religião na vida das pessoas?
MC – Não. Acho que falta arroz, feijão, pão, abrigo, educação, saúde. O desenvolvimento espiritual, você sabe, começa pelo corpo físico, pela matéria. O corpo insano é um empecilho à verdadeira elevação espiritual. A religiosidade, no sentido amplo, de re-ligar a matéria ao espírito, pode ser “conquistada” de muitas maneiras… Até pelo sexo. Todos os caminhos levam ao Pai! Mesmo porque a Bíblia, por exemplo, não serve para despertar a consciência. A Bíblia é para quem já tem a consciência desperta. Deve ser por isso que dizem que o ignorante padece menos. Por outro lado, como lembra um amigo, Beto Caloni, quem não morre, não vê Deus.
JA – De que maneira a Educação e a Saúde devem ser incentivadas?
MC – Através de uma política que respeite e saiba administrar com justiça e misericórdia o patrimônio de recursos naturais tão ricos de nossa terra. Os países desenvolvidos investem na saúde preventiva porque sabem que é menos dispendioso e mais lucrativo. O incentivo à leitura me parece uma das melhores soluções para os problemas da Educação porque nem todo leitor é estudante, mas todo estudante é leitor.
JA – Qual a sua visão do jornalismo atual em Araraquara?
MC – O mercado reflete bem a mentalidade conservadora de alguns políticos e empresários. A formação de profissionais da Faculdade de Jornalismo da Uniara, por exemplo, e o crescimento da economia na região, com a Embraer, vai tornar o mercado mais exigente e competitivo. Com as empresas de comunicação e marketing, as agências de publicidade, e as assessorias de imprensa se instalando em Araraquara, a concorrência vai estimular a qualidade dos serviços, realizando uma espécie de saneamento saudável e necessário para o progresso desta atividade humana tão edificante.
JA – E a questão da legalidade para o exercício dessa profissão?
MCS- O que importa mesmo é a competência. Seja formado ou não, o jornalista, como qualquer profissional, deve exercer seu ofício com dignidade. O ato de escrever está intimamente ligado ao exercício do jornalismo. Com a internet e o desenvolvimento das Telecomunicações, as permanentes transformações da carreira são inevitáveis. O próprio mercado vai acabar encontrando um meio de “legalizar” a profissão.
JA – O que significa o teatro na sua vida?
MCS – Uma das melhores e mais divertidas oportunidades de me conhecer e de me relacionar. Se a arte tem função, pra mim, a principal é proporcionar o questionamento das tragédias e a vivência de tudo o que há de mais glorioso. Quando se representa alguma coisa ou alguém, essa experiência de ator, que é um atleta das emoções, faz você crescer emocionalmente, amadurecer. O teatro significa libertação de padrões comportamentais psicológicos, culturais, morais, éticos e sociais, para o aprimoramento do espírito através da sensibilidade. Fazer teatro me ensinou a “limpar” e desenvolver a minha percepção dos diferentes níveis de realidade.
JA – Quais a maiores dificuldades você tem tido para vencer?
MCS – São tantas… As maiores dificuldades estão relacionadas com nossa personalidade. As reações mecânicas, impulsivas, impensadas… Acredito que os obstáculos mais difíceis de se transpor estão no interior da gente. Quando nos sentimos vitoriosos e a mente está em perfeita sintonia com o que estamos fazendo, o sucesso acontece. As pessoas me dizem que sou corajoso, tenaz, esforçado. Eu procuro equilibrar talento e boa vontade. O tempo é mestre em apontar os melhores caminhos. Ao amadurecer vamos entendendo mais e melhor esse negócio de como funcionam as estruturas da sociedade. Eu chego lá.
* A coluna Gente – reconhecendo que Marcelo Corrêa da Silva é, efetivamente, uma pessoa das mais interessantes -, trará excepcionalmente outra série de respostas inteligentes do entrevistado em nossa próxima edição.
Isso se dará em virtude de ter nascido um interesse jornalístico em ampliar a gama de indagações e abrir novo espaço para que Marcelo abra, ainda mais, o seu coração a Araraquara.