João Baptista Galhardo
Recentemente, por dez dias, participei de um Congresso de Direito Registral Imobiliário em Porto Alegre. Foi um sucesso. Com participação, inclusive de Profissionais do Direito da Espanha e de Portugal. No quinto dia para mudar um pouco de assunto, até então só Direito, fomos, numa turma, tomar cerveja num bar ao lado do Hotel onde se realizava o Evento. Na mesa estavam Mineiros, Paulistas e Gaúchos. Dois colegas do local, acompanhados das respectivas esposas. Foi proibida conversa de Direito. A reunião era para jogar prosa fora. Mas sem exagero, porque havia duas senhoras à mesa. Para começar o Paulão contou uma piada de mineiro. Leve. Quase infame: um mineirinho estava andando pela rua quando encontrou uma lâmpada. Esfregou e dela saiu um gênio. O senhor pode fazer três pedidos. O mineiro nem pensou e pediu um pão de queijo. O gênio achou estranho, mas atendeu. Pode fazer o segundo pedido. E o mineiro: “me dá outro pão de queijo”. O gênio atendeu. E agora, qual é o seu terceiro e último pedido? O mineiro: “bom… me dá uma mulher bem bonitona”. O gênio lhe deu. Tempos depois esse mineirinho encontra a mesma lâmpada. O gênio saiu:
– que surpresa! Você de novo? Pode fazer mais três pedidos, mas, antes me diga uma coisa… por que da outra vez você pediu dois pães de queijo e só por último pediu uma mulher? O mineirinho coçou a cabeça:
– olha seu gênio, é que eu fiquei com vergonha de pedir mais um pão de queijo!!! E emendou outra de mineiro:
– um sujeito estava pescando e um mineirinho se aproximou. Ficou três horas de cócoras, pitando e olhando para o pescador. Este, encabulado falou:
– quer pescar?
E o mineiro respondeu: “não, obrigado. Eu não tenho paciência”.
O Valdemar iniciou uma piada. Ele não sabe contar. Começa a rir da própria a ponto de se afogar. Mesmo assim ele contou uma:
– enquanto os passageiros de um avião esperavam, já dentro da nave, entraram o piloto e o co-piloto, de óculos escuros, de braços dados com as aeromoças. Fiquem tranqüilos, disseram elas. “São cegos, mas são os melhores”. Ouve-se a voz de um deles.
– decolagem autorizada.
E começa a andar. A pista estava quase no fim e o avião não saía do chão. Os passageiros gritaram SOCOORRRO. Nesse momento o avião começou a subir e todos ouviram um piloto falar para o outro.
– o dia que os passageiros não gritarem nós estamos ferrados!!!
Pediram que eu contasse uma. Mas com as mulheres à mesa havia de ser uma bem censurada. Caseira mesmo. Enquanto isso eu notava que o João, gaúcho e torcedor do Internacional estava incomodado com um cara da mesa ao lado que falava alto, vestindo uma camisa do Grêmio, super rival do seu time. Bem, não contei propriamente uma piada. Contei um “causo” que vem lá da idade média. Um jovem entrou para um convento, fazendo votos de pobreza e silêncio. O Monge Superior da Comunidade Religiosa alertou:
– você vai ficar enclausurado, comer mingau, um pedaço de pão e dormir numa tábua dura. Terá direito a falar só duas palavras a cada dez anos.
Passados os dez primeiros anos, o Monge Superior foi até a sua cela para ouvir as duas palavras, tendo ele dito: “CAMA DURA”. Voltou a se alimentar daquela forma e a dormir no mesmo lugar. Foi obrigado, ainda, a copiar a bíblia à mão. Novos dez anos se passaram e o Monge foi ouvir mais duas palavras: “CAMA HORRÍVEL”, disse ele. Nenhuma providência foi tomada. No final do trigésimo ano, o Superior foi ouvir mais duas palavras. Disse o interno: “EU DESISTO”. E o Superior:
– é bom mesmo que você vá embora. Há trinta anos, desde que entrou aqui, você só reclama.
Nessa hora, o vizinho da mesa ao lado, xambregado, se aproxima, coloca as duas mãos na mesa, ao lado da D. Olinda, esposa do Dr. Valter, e diz:
– Já que vocês estão contando piadas… eu estava ouvindo. Conhecem aquela da guaiaca do Raimundo? Foi um silêncio total. Mesmo sem autorização ele continuou.
– O Raimundo era um peão famoso pela guaiaca que tinha. Fivela de prata, botões dourados. Um luxo. Não emprestava nem vendia. Certa feita, tropeando uma boiada, parou para descansar. Bebeu um vinho de garrafão, comeu um carreteiro, tomou um chimarrão e depois dormiu, deixando a guaiaca pendurada numa moita. Quando acordou não viu mais a sua preciosidade. Procurou… procurou, anunciou em baile, posto de gasolina, missa e nada da guaiaca. Depois de um tempo, indo para um fandango, parou numa bodega para tomar um trago. Quando olha de lado, viu um homem com a sua guaiaca. Todo falante, esfregando a pança no balcão. O sangue do Raimundo ferveu. Tomou mais um trago e foi em direção do tal. Começou de leve.
– Que mal lhe pergunte, quem é senhor?
– Sou Juca Paiva, peão da fazenda Tijuco Branco, a dez léguas daqui.
– E essa guaiaca… de onde vem?
– Ah, essa guaiaca tem uma história linda. Estava eu cavalgando por esses pagos e me deparei com um tropeiro bom de anca, dormindo espalhado nos pelegos. Como eu andava meio atrasadote, resolvi me servir daquele traseiro popozudo. Gostei tanto que trouxe a sua guaiaca de lembrança. Mas, por que você me pergunta?
– Por nada! Curiosidade. Não há motivo algum. Até logo!!!
Nesse instante pagamos a conta e fomos embora antes que o gremista inoportuno saísse com outra mais pesada.