Dirceu C. Gonçalves (*)
O conselheiro Eduardo Bittencourt, que acaba de alçar ao destacado e honrado posto de presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, equivalente a guardião da honra e da moralidade pública do Estado e de nada menos que 644 municípios (só a capital está fora de sua mira por possuir tribunal próprio), começa a patinar no escorregadio terreno em que se pratica o "tiro de alcova". A história recente contabiliza inúmeros políticos, empresários e personalidades que pagaram caro por subestimar o poderio destruidor de suas ex-companheiras. Também mostra, embora sem precisão quantitativa, muitos outros purgando relações insatisfatórias só para evitar o confronto e suas nefastas conseqüências.
Bittencourt está na mira do Ministério Público, do Ministério da Justiça e da Assembléia Legislativa, que querem tirar a limpo a suposta e vultosa propina de US$ 15 milhões, que teria recebido de uma empreiteira e depositado ilegalmente em Miami (EUA), além de outras denúncias sobre a venda de tráfico de influência. Defende-se, afirmando que tudo não passa de queixas infundadas de sua ex-mulher, Aparecida E. Carvalho, no âmbito do processo de separação e partilha de bens. Até o momento, ninguém pode acusá-lo nem absolvê-lo, mas uma coisa é certa: como homem público, terá de fazer prova de sua inocência e, conseguindo, poderá até cobrar reparação de quem o tenha acusado injustamente.
O cenário é adverso. Mesmo sem culpa ou dolo formado, o conselheiro, investido numa importante função pública, não conseguirá exercer com a devida serenidade e plenitude o cargo. Como pode o "bicho-papão" de todos os errantes da máquina pública trabalhar sob suspeita? No mínimo, teremos a repetição de cenas lamentáveis ocorridas recentemente com outros notáveis atropelados pelas suas ex-senhoras.
O melhor que o dr. Bittencourt tem a fazer é licenciar-se do cargo e facilitar a ação dos órgãos fiscalizadores. Só assim, em sendo inocente, conseguirá voltar por cima, em condições morais de aniquilar aqueles que lhe tentam fazer mal e, principalmente, preservar a dignidade do cargo que assumiu depois de tantos anos de trabalho. O Tribunal de Contas, um dos mais importantes órgãos da sociedade paulista, que já evitou muita corrupção e safadeza, não pode pagar o preço das dificuldades pessoais vividas pelo seu presidente. Isso seria um retrocesso e mais um motivo de desprestígio do mundo oficial…
Neste momento, espera-se do presidente denunciado, no mínimo, grandeza e desprendimento…
(*) É Tenente e dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)- aspomilpm@terra.com.br