"Nada é melhor para a felicidade que trocar as preocupações por ocupações". (M. Maeterlinck)
Bom dia a todos. Hoje quero fazer uma coluna especial. Será totalmente dedicada a uma mulher, grande educadora e amiga, minha querida Sylvia de Oliveira Mendes.
O mestre e o discípulo não se descobrem como tais senão na relação que os une. É o discípulo que faz o mestre. É o mestre que faz o discípulo. A verdade de cada um deles depende da sua relação com o outro; é uma verdade em reciprocidade.
Comemoração 7 de setembro de 1957, oradora Sylvia de Oliveira Mendes.
Toda a verdade humana é a verdade de um diálogo. Ninguém pode dizer a verdade sem primeiro a ter recebido. Aquele que imagina estar a falar sozinho e pronunciar no absoluto uma palavra definitiva, engana-se sobre si próprio e sobre a verdade.
O diálogo do mestre e do discípulo situa-se no seio do imenso horizonte da cultura humana. Todo o homem que fala ao homem fala da humanidade à humanidade.
Eis aqui um dos aspectos mais surpreendentes da realidade humana, capaz de fugir a si própria, de se perder e de se reencontrar. “No diálogo presente, dizia Merleau-Ponty, sou libertado de mim próprio; os pensamentos dos outros são verdadeiramente pensamentos seus, e não sou eu que os formo, embora os apreenda logo que nascem ou me antecipe a eles, e mesmo a objeção que o interlocutor me faz arranca-me pensamentos que eu não sabia possuir, de maneira que, se eu lhe atribuo pensamentos, ele em troca faz-me pensar. E só tarde demais, quando me retirei do diálogo e o recordo, que posso integrá-lo na minha vida, fazer dele um episódio da minha história privada, e que outrem entra na sua ausência, ou, na medida em que me continua presente, é sentido como uma ameaça para mim”.
A mestria é um mistério. A relação do mestre com o discípulo é um diálogo sem comunicação, uma comunhão indireta e sem plenitude, uma fuga cuja solução e resolução seria indefinidamente recusada. Bergson, perante os seus discípulos mais fiéis, pensava em voz alta e sozinho; e é no ocaso da sua própria vida que o discípulo mais fiel presta ao mestre há muito desaparecido a homenagem que lhe é devida: “os verdadeiros bergsonianos, diz, justamente Gílson, não são os que repetem as suas conclusões, são antes os que, a seu exemplo, refazem por sua própria conta, e em terrenos diferentes, alguma coisa de análogo ao que ele próprio fez”.
O segredo da mestria é que não há mestre.
Um belo texto de Nietzsche evoca a odisséia da consciência humana no seu esforço para se conquistar a si própria: “Quero fazer a tentativa de alcançar a liberdade, diz de si para si a jovem alma (…) Ninguém pode construir-te a ponte sobre a qual deverás transpor o rio da vida, ninguém exceto tu própria (…). Há no mundo um único caminho que ninguém pode seguir a não ser tu. Onde conduz ele? Não o perguntes. Segue-o. (…). Os teus verdadeiros educadores, os teus verdadeiros formadores revelam-te o que é a verdadeira essência, o verdadeiro núcleo do teu saber, alguma coisa que não se pode obter nem por educação, nem por disciplina, alguma coisa que é, em todos os casos, de um acesso difícil, dissimulado e paralisado. Os teus educadores não poderiam ser outra coisa para ti senão os teus libertadores”.
Eis aí sua mestria, Sylvia de Oliveira Mendes. Eis seu mais alto triunfo: não se apoderar do discípulo, mas dar-lhe a palavra. Gratidão eterna por seus iluminados ensinamentos, aluna que fui por exatos cinco anos. Nada mais justa que a outorga que ora recebe: título de Cidadã Araraquarense, por indicação da vereadora Vera Botta (dia 14 de maio, às 19h30m, na Câmara Municipal de Araraquara).
Sylvia de O. Mendes iniciou sua vida profissional em 1950, ministrando a aula inaugural da Escola Normal “Bento de Abreu” de Araraquara.
“A liberdade humana é uma liberdade que se procura e que só irremediavelmente se perde quando se julga tê-la encontrado. Mas aquele que renunciou a descobrir a mestria na terra dos homens, esse pode um dia encontrá-la viva e a acenar-lhe, na volta do caminho, sob o disfarce mais imprevisto”.
Profª Sylvia, obrigada pelo contive. Estaremos todos prestigiando a entrega de seu honroso título de Cidadã Araraquarense. Reconhecimento esse que a meu ver já deveria ter-lhe sido outorgado.
Porém, como diz o velho ditado: "antes tarde do que nunca". Este título está em boas mãos, grande mestra Sylvia de Oliveira Mendes.
Parabéns mais uma vez.
"A procura egoísta da própria felicidade é a maneira mais fácil de afastá-la do nosso caminho". (Anselmo Fracasso)
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Profª Teresinha Bellote Chaman