A emergência e o desenvolvimento da comunicação de massa.
"A cultura de massa é um mal irrecuperável? A cultura de massa, de modo geral, respeita a diversidade cultural ou tem a pretensão de ela se tornar uma cultura exclusiva? Existem benefícios e malefícios da cultura de massa para o homem ? A comunicação de massa é necessária para que haja uma comunicação universal ? A comunicação de massa produz ou reduz desigualdade ?"
(Giovandro M. Ferreira prof. da UFES in Teoria da Comunicação Hohlfeldt, Antônio e outros).
Para responder a esses questionamentos do prof. Giovandro, faz-se necessário entender um pouco sobre Comunicação. Durante algumas edições falaremos a respeito deste assunto.
Aspectos da transmissão cultural (tc).
Cultura: Toda e qualquer produção de sentido, na qual haja uma representação simbólica a respeito do mundo.
A tc troca de formas simbólicas (dos produtores aos receptores).
Serão destacados três aspectos da tc que, com a emergência e desenvolvimento da comunicação de massa, assumiram novas formas e adquiriram nova importância:
Meio técnico fixação/reprodução/participação;
Aparato institucional canais de difusão seletiva;
mecanismos para implementação restrita;
Distanciamento espaço-temporal contextos de co-presença;
– extensão da acessibilidade.
Aspectos da transmissão cultural:
1º. Meio técnico de transmissão: – mecanismos de estocagem de informação;
– atributos:
a) permite certo grau de fixação com respeito à forma simbólica que é transmitida e varia de um material a outro:
* conversação (alto-falantes/ telefones) grau de fixação baixo ou nenhum;
* escrita/gravura/filmagem/pintura/gravação: grau de fixação alto.
Obs.: capacidade de armazenamento dos meios técnicos = recursos para exercício do poder
b) – permite certo grau de reprodução da forma simbólica:
* escrita: desenvolvimento da imprensa tornou-se decisivo;
* litografia/fotografia/gramofone: fenômenos visuais e acústicos.
Obs.: 1) a reproduzibilidade das formas simbólicas é uma das características chave que subjaz:
* à exploração comercial dos meios técnicos por instituições da comunicação de massa;
* à mercantilização das formas simbólicas que essas instituições procuram e promovem.
2) obra original ou autêntica:
* adquire novo significado.
a) – refere-se à natureza e amplitude da participação que ele permite, ou requer, dos indivíduos que empregam esse meio.
Assim: diferentes meios e exigem diferentes habilidades, faculdades e recursos, a fim de codificar e decodificar mensagens no referido meio.
Ex.: para escrever e ler uma carta pessoal, um texto literário/para fazer um script/para produzir, transmitir e olhar um programa de TV.
2º Aparato institucional: a troca de formas simbólicas, muitas vezes, envolve um aparelho institucional de transmissão (= conjunto específico de articulações institucionais, dentro dos quais o meio técnico é elaborado e os indivíduos envolvidos na codificação e decodificação das formas simbólicas estão inseridos: ex.: publicar um texto literário).
3º Distanciamento espaço temporal: Thompson apóia-se no trabalho de Harold Innis e Anthony Giddens, que enfatizaram a importância do espaço e do tempo para a teoria social e para a análise dos sistemas de comunicação;
* a transmissão de uma forma simbólica implica: desligamento dessa forma;
* desligamento do contexto de sua produção, tanto espacial como temporal.
A natureza e a grandeza do distanciamento varia de um meio técnico a outro:
a) – contexto de co-presença: ex.:
* conversação;
* alto-falantes/telefones/rádio (suplementação da fala, através desses meios técnicos) co-presença temporal/distanciamento espacial;
* gravador: co-presença espacial, mas se acoplado a outros meios técnicos (ex.: rádio) facilita distanciamento tanto temporal quanto espacial.
a) – extensão de acessibilidade: quando as formas simbólicas (f.s) são transmitidas para além de um contexto de co-presença:
* antes do desenvolvimento das telecomunicações: papiro/papel (com o transporte físico das f.s.) inscrições em argila e pedra/textos escritos ou impressos/formas simbólicas armazenadas em filmes, fitas, discos (exercício do poder);
com o desenvolvimento das telecomunicações: redes de comunicação baseadas em computadores/difusão por satélite (sem o transporte físico das f.s.).
Importância da escrita e a introdução dos meios técnicos para a fixação das mensagens escritas.
A escrita, a imprensa e o surgimento do comércio na notícia.
Antes da invenção da escrita: tc contextos de co-presença (embora alguma extensão de acessibilidade tivesse sido conseguida através de formas rudimentares: pictografia e artefatos materiais).
Sistema completo de escrita: sumerianos/egípcios/cuneiforme (tabuletas de argila, depois substituídas por papiro e pergaminho como meios técnicos de transmissão).
Alfabeto escrito (segundo milênio aC). Papel: inventado na China 105 dC (as técnicas de impressão foram desenvolvidas originariamente na China).
1450 Gutemberg desenvolvimento de técnicas que podiam ser exploradas comercialmente: método para duplicar letras de metal, de tal modo que grandes quantidades de tipos poderiam ser produzidos para a composição de textos extensos (p. 231).
Segunda metade XV técnicas de impressão se espalharam e imprensas foram estabelecidas nos principais centros comerciais da Europa. Fato que se constitui no alvorecer da era da comunicação de massa e que coincidiu com o desenvolvimento das primeiras formas de produção capitalista e de comércio (começos do moderno estado-nação).
"A interpretação da sociedade moderna, enquanto sociedade de massa, nasce do aprofundamento ou da fase dita metafísica das críticas às novas condições vividas pelos indivíduos, sobretudo nas aglomerações urbanas. A crítica do medo da desintegração social desdobra-se em outras críticas, que têm origem nas análises elencadas: declínio dos grupos primários (família, grupo de vizinhos, associações esportivas…), burocratização crescente, igualdade e insegurança; por fim, uma ontologia acerca do homem massa e da cultura que o influencia é também fomentada por ele, a cultura de massa".
(Giovandro M. Ferreira)
Na próxima semana, falaremos sobre a emergência da indústria da imprensa na Europa e o aparecimento da circulação massiva de jornais, nos séculos XIX e XX.
Se desejar dar sua opinião a respeito celp@terra.com.br
Até à próxima semana.
Profª Teresinha Bellote Chaman