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A Cultura em Diálogo

Profª Teresinha Bellote Chaman

O tempo nos foge veloz! Mais um fim semana.

Que bom estarmos juntos mais uma vez. Você tem acompanhado a nossa coluna?

Você é vestibulando? Você tem filho, sobrinho? Recomende a leitura desta coluna. O CELP CENTRO DE ESTUDOS DA LÍNGUA PORTUGUESA está a sua disposição. Se você gosta de culinária, todos os dias, às 19h30m, na Rede Mulher de TV, assista ao programa Mestre-Cuca. Eu estou lá todos os dias, no quando "Teste o seu Português", com o "chef"Allan.

A Palavra

"Já não quero dicionários

consultados em vão.

Quero só a palavra,

que nunca estará neles

nem se pode inventar.

Que resumiria o mundo

e o substituiria.

Mais sol do que o sol,

dentro da qual vivêssemos

todos em comunhão,

mudos,

saboreando-a".

(C.D.A)

Há palavras mágicas, outras infelizes, agradáveis, até assustadoras! O ritmo e a sonoridade das palavras desperta reações nas pessoas.

É preciso senti-las: a palavra é muito mais que o seu significado. Estamos feitos de palavras.

Leia o texto de Luís Fernando Veríssimo e perceba como o cronista sente palavras, como falácia, hermeneuta, traquinagem, plúmbeo, defenestração…

Como você as sente ? Não se preocupe com os seus significados. Observe sua sonoridade, seu aspecto gráfico.

DEFENESTRAÇÃO

Certas palavras têm o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam criar falácias em todas as suas variedades. A Falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra.

Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria.

– Os hermeneutas estão chegando!

– Ih, agora é que ninguém vai entender mais nada…

Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria ter um sentido oculto.

– Alô …

– O que é que você quer dizer com isso ?

Traquinagem deveria ser uma peça mecânica.

– Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.

Plúmbeo deveria ser o barulho que um corpo faz ao cair na água.

Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração.

A princípio foi o fascínio da ignorância.

Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:

Defenestras?

A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas …

Ah, algumas defenestravam.

Também, podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a casa. Haveria, assim, defenestradores profissionais.

Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerravam os documentos formais ? "Nestes termos, pede defenestração…" Era uma palavra cheia de implicações. Devo até tê-la usado uma ou outra vez, como em:

Aquele é um defenestrado.

Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer ?

Defenestrada. Mesmo errada, era a palavra exata.

Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E aí está o Aurelião que não me deixa mentir. "Defenestração" vem do francês defenestration. Substantivo feminino. Ato de atirar alguém ou algo pela janela.

Ato de atirar alguém ou algo pela janela !!!

Acabou a minha ignorância, mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada abaixo. Por que então defenestração?

Talvez fosse um hábito francês que caiu em desuso.

Como o rapé. Um vício como o tabagismo ou as drogas, suprimido a tempo.

Les defenestrations. Devem ser proibidas.

– Sim, monsieur le Minestre.

– São um escândalo nacional. Ainda mais agora, com os novos prédios.

– Sim, monsieur le Minestre.

– Com prédios de três, quatro andares, ainda era admissível. Até divertido. Mas daí para cima vira crime. Todas as janelas do quarto andar para cima devem ter um cartaz: Interdit de defenestrer. Os transgressores serão multados. Os reincidentes serão presos.

Na Bastilha, o Marquês de Sade deve ter convivido com notórios defenestreurs. E a compulsão, mesmo suprimida, talvez ainda persista no homem, como persiste na sua linguagem. O mundo pode estar cheio de defenestradores latentes.

(In O analista de Bagé)

"Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa!"

Não perca a próxima edição: muitas poesias do Prof. R. Leontino.

Até ao próximo Domingo.

Manifeste-se…

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Ou envie correspondência para este jornal.

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