A chateação

João Baptista Galhardo (*)

Ensinam os melhores dicionários que chato é um inseto anopluro da família dos ftiriídeos, cosmopolita, que mede l,3 mm de comprimento que vive geralmente na região pubiana do homem. Também chamado piolho das virilhas e que se torna inoportuno pelas coceiras que provoca.

Por isso, talvez, virou o adjetivo vulgar, corriqueiro, delambido, enfadonho, desinteressante, rançoso, insosso, malengraçado, desconsolado, oco, pobre de espírito, melancólico, xaroposo, sonífero etc.

Definir já é chato (omnis definitio platta est). Guilherme Figueiredo (Tratado Geral dos Chatos) diz que chato é o indivíduo, ser, coisa ou evento cuja presença, existência, atitude, ação ou lembrança, continuadamente, tem a capacidade de inspirar sentimentos contrários à alegria de viver, à paz de espírito e à Paz Mundial.

Há chatices e chatos para todos os gostos.

Ligo a televisão e a entrevistadora chata está perguntando para a mãe: que você sentiu quando viu sua filha na grama para onde foi atirada? É mole? Mudei de canal. Aliás, o melhor da televisão, repito sempre, tem sido o controle remoto.

Figueiredo lembra Vallée des Bareaux: "Nem juiz, nem marido ou padre queira ser. Ganhe dinheiro e gaste em tudo que o alegra. E, em lugar de bancar defecador de regra, estude pra gozar e não para saber. Neca de dona fixa ou patrão que aborreça. Somente por azar esbarre num graúdo. Não minta pra lucrar qualquer troco miúdo. Não deixa que a ambição lhe perturbe a cabeça. Dobre depressa a esquina ao avistar um teso. Isole na madeira ao evitar quem dá peso. Use, em vez do remorso, um discreto recato. Trate só do presente e caia na gandaia. Nunca perca o amanhã por um rabo de saia. Isto sim é viver, velhinho! O resto é chato".

A vida é para ser vivida intensamente, com amor, respeito, interação e sem chatice. Isso porque a morte pode chegar de repente. E morrer é um pé no saco.

Mas nem sempre estamos livres de chatos e chatices. Dos chatos saudosistas repetitivos. Do político chato. Do chato invejoso. Se alguém lhe diz que teve aumento vem logo a frase ensaiada: "Deus que te ajude e não me desampare". O chato que chateia só com a sua presença. Satura sem falar nada. Fica quieto para se passar por sábio, geralmente com as mãos cruzadas sobre o abdômen. De vez em quando levanta os ombros para colocar em dúvida algum elogio ou balança a cabeça em sinal de aprovação ou reprovação. Abraços de chatos. Aqueles que esfregam as mãos nas costas como se estivessem tirando poeira da roupa. O chato de mau hálito borrifante de saliva. O chato receitador: "para emagrecer é sauna meu caro". O médico chato: o cliente com furúnculo e a primeira coisa que diz é que ele precisa emagrecer, perder peso, "vou lhe dar a pirâmide dos alimentos". Cuidado com o colesterol, postura, triglicérides, etc."

A mulher chata que liga a toda hora para o trabalho do marido para saber onde ele se encontra.

A sogra chata. Como vai seu filho D. Carmela?

– Um coitado. Casou com uma vagabunda, gastadeira, que não sabe cozinhar, costurar, vive na rua…

– E sua filha Filó?

– É outra infeliz. Casou com um corno!

Nunca se deve comer na companhia de um chato. Nós somos o que comemos e com quem comemos. Causa indigestão.

Não é difícil identificar o chato. "Você é quem brilha". "Como vai essa bizarria? O chato que visita o amigo doente: "minha tia teve a mesma coisa e ainda viveu um ano". O chato confidente que segura sua vítima pela camisa ou paletó cuspindo no ouvido. "Você manda e não pede". O chato caloteiro: "um dia ainda lhe pago". Quando alguém é elogiado, lá vem o chato: "mas… dizem coisas pesadas contra ele". "Não ganho tanto como você, mas vou tocando a vida como Deus quer". Os chatos etílicos, chorões ou não. E muitos (a lista seria enorme) outros.

Há também desculpas esfarrapadas e notícias chatas. Um empresário engravidou quem não devia. Que chateação. Casado, com outra, é claro, pediu para a gestante que fosse morar na Itália. E que lhe desse notícia do nascimento da criança. Ele custearia tudo.

– Mas como? E se a sua mulher abrir a correspondência?

– Substitua a expressão criança pela palavra espaguete.

Passado um tempo a mulher abre uma correspondência e fala para o seu marido: "Não entendi nada. Carta da Itália. Diz: "curso terminado. Espaguete, espaguete, espaguete, espaguete e espaguete. Três com linguiça e dois sem”.

Ele teve um infarto.

(*) jbgalhardo@uol.com.br

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