Antonio Delfim Netto (*)
O Brasil está "quase" preparado para uma segura viagem ao desenvolvimento econômico robusto, com estabilidade monetária, equilíbrio externo e redução das desigualdades pessoais e regionais de renda. Acredito que sobre essa afirmação há uma "quase convergência" de opiniões entre economistas e no corpo político, excluídos naturalmente os radicais de carteirinha que resistem a sair de moda… Isso tem sido demonstrado nas manifestações deste período pré-eleitoral, que estão conduzindo o debate para o que realmente interessa: a retomada do crescimento.
Discutir o desenvolvimento não deve causar incômodo nem ao governo presente que pretende a continuidade – nem à administração anterior, tucana, que deseja o retorno ao poder. É natural que o debate tenha começado pela tentativa de se entender, com um pouco mais de clareza, as causas da paralisia do desenvolvimento brasileiro. Particularmente tenho chamado a atenção para o "efeito câmbio" ou seja para a perda de dinamismo do comércio exterior brasileiro em conseqüência dos seguidos equívocos de nossa política cambial. Demonstra-se facilmente a paralisia da economia brasileira pela simples comparação da fraca performance de nosso comércio exterior com a de parceiros como a Coréia, China, Chile, Irlanda, que em 1986 exportavam menos do que nós e no final do século já vendiam três, quatro, cinco vezes mais.
O fracasso das exportações foi o principal, mas não o único fator da estagnação econômica no período mais recente. A ele vieram somar-se a irresponsabilidade fiscal no primeiro mandato de FHC, o inchaço nos gastos públicos, o acúmulo das dívidas interna e externa e como conseqüência a rápida elevação da carga tributária. Esta última é hoje o principal entrave à retomada do desenvolvimento.
Com a mudança da política cambial em 1999 as exportações puderam recuperar o dinamismo e a partir de 2002 já crescem à taxas superiores à expansão do comércio global. Embora com enorme atraso, o Brasil recomeça a corrida atrás de seus competidores mundiais. Juntamente com a execução de uma política fiscal responsável abre-se a possibilidade de acelerar o crescimento de forma sadia. Para isso é preciso terminar a desmontagem das armadilhas herdadas dos governos FHC. As elites tucanas não escondem o grande desconforto que lhes causa a comparação dos resultados entre as duas administrações, mas é inegável a melhora da economia sob o atual governo: há menos inflação, o salário teve uma pequena recuperação, a pobreza (depois de 20 anos!) diminuiu, o desemprego e a desigualdade de renda se reduziram; dobrou o valor das exportações anuais e quadruplicou o saldo do comércio exterior; as reservas líquidas triplicaram; houve progresso substancial nas relações Dívida Externa/Exportações e Amortizações + Juros sobre as Exportações; a relação Dívida Externa Líquida/PIB foi reduzida de 56% para 51% e, finalmente, foi zerada a Dívida com o FMI de 20 bilhões de dólares contraída no governo FHC. Isso aconteceu entre 2002 e 2005 e é o que está possibilitando a convergência dos fatores para uma nova etapa de desenvolvimento.
(*) E_mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br